30 novembro 2005

Luís Monteiro da Cunha

A Decisão... (12)


imagem daqui

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- Ana... tenho um assunto muito sério para te falar. - Disse novamente a Dr.ª Isabel.
A visada continuou calada, olhando nos olhos da interlocutora, inquisitiva.
- Ando a pensar nisto à uns tempos... e é chegada a hora de te fazer umas perguntas muito importantes para mim...
Os olhos de Ana brilharam, expectantes.
- Sabes que sou viúva, e infelizmente o Sr. Engenheiro, meu falecido, não me honrou com a dádiva de filhos, Deus o tenha em descanso, motivo pelo que não tenho descendência. Poderia ter adoptado uma criança quando era mais nova, mas não o fizemos quando o engenheiro era vivo, sempre com a esperança de que um dia... e agora é tarde demais; já não o posso fazer. Gostaria de te fazer uma proposta... mas não sei como a receberás...
- Sou toda ouvidos, Dr.ª - Disse Ana.
- Pois... pensei muito... e.. como sabes, simpatizei contigo desde aquela tarde em que te conheci.
Só por isso é que te ofereci o emprego na firma, apesar de ter o quadro de pessoal completo.
Acho que foste sincera e verdadeira e portanto merecias uma oportunidade de endireitar a tua vida e assim conseguires serenar essa cabecinha que andava perdida, sem rumo definido.
Claro que depois acompanhei devidamente todo o teu trabalho e postura nos vários serviços, de que incumbi o Dr. Antunes para tos destinar.
Cada um mais difícil de realizar. Alguns até, sem que estivesses devidamente habilitada para os concretizar devido à sua especificidade.
A todos deste uma saída satisfatória e sempre os cumpriste cabalmente, apesar da dificuldade de cada um.
Mas para mim o mais importante... nunca deixaste de os cumprir, por mais dificeis que fossem, e tiveste sempre um sorriso nos lábios. Demonstraste assim uma alegria contagiante e contribuiste para uma boa relação laboral de inter-ajuda com as outras meninas.
Porque nesta casa, não admito intrigas ou futilidades exteriores ao serviço. Eu apoio e incentivo a camaradagem entre todas e por isso exijo a entreajuda, que tem de ser uma constante.
Ana escutava estupefacta, uma lágrima começava já a aflorar no canto do olho.
A Dr.ª Isabel não se deteve:
– Muito gostei de ver-te trabalhar assim, alegre e bem disposta, a dizer gracejos por tudo e por nada, contagiando quem estava próximo. Eu bem vi as gargalhadas que davam quando te ouviam... – A Dr.ª fez uma pausa. – Por isso mesmo, sou eu própria que recruto todas as meninas para o atelier de costura. Reparei que foste aceite por quase todas e algumas até procuram a tua companhia na hora de almoço, o que diz muito de ti. Não é verdade?
Ana aquiesceu com a cabeça, pois não conseguiu pronunciar qualquer palavra com a comoção que estava a sentir.



Fechado no gabinete, pensativo e melancólico, Jorge continuava abismado com o seu gesto, não encontrando solução imediata para o justificar.
Tentou animar-se e pensar outra coisa.
O que não tem solução, solucionado está.
Lembrou-se das palavras da Dr.ª:
“- Quanto à colecção “Nevada”… O Dr. não se esqueça de fazer como recomendei. Vai ver que ainda conseguimos salvar isto.”
Claro, a tarde estava a passar e ele ainda tinha de resolver o problema criado por Ana. Tanto que fazer e ele a recriminar-se.
Premiu um botão no intercomunicador, enquanto retirava da gaveta a pasta com o organograma da colecção “Nevada”, planeando efectuar as alterações necessárias conforme as indicações da Dr.ª Isabel, colocando-a sobre a secretária.
Levantou o auscultador do telefone, enquanto pensava na ideia da Dr.ª.
Torcia para que fosse aceite pelo cliente. Tinha quase a certeza que seria aceite. Afinal a ideia era fenomenal. Não chegou a completar a marcação do número.
Bateram à porta pedindo para entrar. Jorge lembrou-se que estava trancada e levantou-se abrindo-a de imediato. Mandou a D. Olga sentar-se defronte da sua secretária e explicou o que deveriam fazer para completar a colecção “Nevada”.
A encarregada ficou contente com o que ouvia e levantando-se a sorrir, quase não deu tempo de Jorge acabar as intruções.
- Ainda bem Dr., vou já providenciar tudo. As meninas vão ficar tão contentes!... - Disse, saindo rápidamente do gabinete.
Jorge também estava mais alegre.


O mundo de Ana, estava irreconhecível.
Quando pensava estar em ruínas e já sem saber como o reconstruir de novo, eis que aparece uma luz ao fundo do túnel.
Não se reconhecia a si própria.
Sempre fora forte e batalhadora e no entanto nas ultimas horas, verificou toda a sua fraqueza perante os imponderáveis das situações que em catadupas se lhe apresentaram e alteraram o sentido comum, fugindo ao seu controle.


- Bem... – Continuou a Dr.ª olhando, séria, Ana nos olhos - O que preciso de te perguntar é o seguinte... como não tenho filhos e segundo sei, não te dás muito bem com os teus pais... Têem os vossos problemas... achas que poderias encarar a possíbilidade de eu te adoptar?... Teria muita honra que fosses minha filha. Serias a minha herdeira natural e um dia, quando eu morrer, tudo isto seria teu. Sei que farias bom uso de tudo e continuarias assim a minha glória.
Ana estava boquiaberta. Ficou calada, sem saber que dizer.
- Não precisas responder de imediato. Pensa bem. Não te quero forçar... e sei que é uma decisão importante e difícil para ti. Mas eu necessito de saber agora, se pelo menos estás disposta a encarar e pensar nesta proposta...

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28 novembro 2005

Luís Monteiro da Cunha

A Decisão... (11)


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Entretanto, encostada na ombreira da porta, com um copo na mão, a Dr.ª Isabel presenciara tudo silenciosa e sorridente.
Lentamente aproximou-se do canapé e sorridente ainda, sentou-se junto de Ana.
Esta olhou-a envergonhada, perdendo o sorriso com que ofertara o Dr. Antunes.
- Vá lá menina. – Disse Isabel com um sorriso trocista. – Levante-se daí, que são horas de tratar da sua vida....
- Doutora, desculpe tudo isto... eu não queria... – desculpou-se Ana.
- Eu sei!... Ai esta juventude! – disse, enquanto a ajudava a levantar-se um pouco. – Num momento estão a morrer de desgosto e a seguir... estão aos beijos... Hahaha. – Disse rindo-se.
Ana ficou calada.
Recordava agora que fora despedida.
- Então.. Estás bem?...Já estás recuperada?
- Já estou bem, obrigada, Dr.ª. – Respondeu Ana.
- Sendo assim, podemos conversar agora de coisas sérias?
- Claro Dr.ª... Eu sei que causei um prejuízo enorme. Nunca poderei pagar a divida que tenho para com a Dr.ª e para com a firma. Ainda para mais, agora que estou despedida! Não sei como vou poder...
- Vá! Cala-te lá um bocadinho e deixa-me falar. A primeira coisa que tenho para te dizer é esta: Quem te despediu?... – disse olhando-a nos olhos e fazendo uma breve pausa. – Eu não fui! Não me ouviste sequer falar em despedimento de alguém. Por acaso falei em despedimento?
- Mas Dr.ª, depois do que fiz... do que se passou no gabinete do Dr. Antunes, pensei... – Disse Ana surpreendida.
- Muito pensas tu menina... mas nem sempre acertas. Por acaso achas que te deixava ir assim... sem tentar pelo menos reaver o meu investimento da melhor maneira possivel? Estás muito enganada. A menina ainda não sabe do que sou capaz.Não costumo apostar em cavalos cansados. Quando aposto é para ganhar e sempre espero o retorno da aposta! Com lucro se possível! – Disse, enquanto se sorria, continuando de imediato. – De qualquer maneira... um erro ou distracção qualquer uma das minhas meninas pode ter. Não é a primeira vez que isto sucede. Erros na elaboração das peças ou do artigo sempre haverão e sempre arranjamos maneira de resolver os assuntos a contento da firma e dos clientes.
- Mas... como a Dr.ª me conduziu para os escritórios, pensava que era para fazer contas comigo...
- Não deves julgar tudo que ouves ou vês, pelas primeiras impressões que te possam causar, ou pelo que julgas saber... Deves aprender a escutar, ver e a analisar cada facto objectiva e sucintamente. Aprende a colocar o coração de lado quando os assuntos nada têm de amoroso e não terás tantos dissabores na vida.
- Sim mas... falou com o Dr. Antunes... que eu estava livre para trabalhar onde quisesse...
- E por acaso, não és livre de trabalhar onde quiseres?... Estou enganada?
- Bem... não! É verdade que posso trabalhar onde quiser... mas depois do que ouvi, pensei...
- Já disse que pensas muito. E quando te deixas absorver pelos teus pensamentos, perdes a lucidez e vontade própria. Vamos então conversar, agora a sério. Está bem?
- Claro. – Disse Ana incrédula, mas mais animada. – Sou toda ouvidos.
Levantando-se, a Dr.ª Isabel fez uma pausa como se ordenasse as ideias, convidando Ana a sentar-se no cadeirão defronte da sua secretária, enquanto esta fazia o mesmo na sua poltrona.
Ana estava abismada, sem saber o que se passava... os acontecimentos vividos e toda a sua vida alterava-se de momento a momento, sem que tivesse o poder de a manobrar.
Sentia-se como marioneta.
Não gostava de se sentir assim.
Mas sentia-se impotente neste momento para assumir o controle da mesma.
Abandonou-se então aos desígnios da Dr.ª Isabel.
Preparou-se para escutar ansiosa e atentamente o que esta tinha para lhe dizer.


Jorge saiu do gabinete da Dr.ª Isabel, revoltado consigo mesmo.
Vociferava para si, palavras ininteligíveis.
Como fora capaz de se aproveitar de uma mulher indefesa?
Sentia-se um energúmeno. Vil, abjecto.
Trancou-se no seu gabinete, fechando-se no interior.
Necessitava de pensar e não queria ser incomodado.
Não podia trabalhar sem ordenar as suas ideias.
Como poderia interessar-se por uma miúda?
Sim... porque não passava de uma miúda... bonita é certo.
Apesar de ter corpo de mulher bem formada, sempre tinha menos dez anos que ele.
Podia até, ser acusado de assédio sexual.
Já tinha ouvido falar disso a colegas, os quais ouviram histórias de outros que acabaram por ser despedidos das firmas. Hoje, ninguém sabia onde paravam, despareceram pura e simplesmente de circulação.
Resolveu fazer uma introspecção.
Porque tinha sucedido?
Quais as causas?
O que o levou a beijar Ana, quando esta estava inanimada?
Raios... - Pensou – Como sou estúpido. Ás vezes pareço um adolescente.

Pensou bastante, mas a angustia e a vergonha não o abandonaram.
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© Guilherme Faria

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26 novembro 2005

Luís Monteiro da Cunha

A Decisão... (10)


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- Jorge!... – Chamou a Dr.ª Isabel – Mas este, absorto nos seus pensamentos nem a ouvia.
– Dr. Antunes! - Chamou a Dr.ª Isabel elevando a voz.
O Dr. Jorge Antunes, voltou à realidade de chofre quando se apercebeu que falavam consigo.
- Desculpe Dr.ª Isabel... - Desculpou-se Jorge.
- Hum..., estava no mundo da lua... Chegue aqui se faz favor, enquanto providencio uns sais ou um copo de água para a nossa menina...
Jorge aproximou-se lentamente do canapé, enquanto a Dr.ª Isabel se ausentava.
Com ternura agarrou na mão esquerda de Ana esfregando-a levemente. Passou os seus dedos naquele rosto, belo, apesar de adormecido.
Sem pensar, aproximou o seu rosto do de Ana...

Ana acordava lentamente.
Aos poucos começava a ouvir ruidos e também aos poucos recordou o que se tinha passado. Tomou consciência de que tinha desmaiado.
Não abriu de imediato os olhos.
Deixou-se estar naquela letargia, tão sossegada e descansada. Pela primeira vez nas ultimas horas, estava totalmente relaxada. Serena.
Não sabia se queria abrir de novo os olhos para a realidade que lhe era madrasta. Intimamente, queria continuar desfalecida, ou se possivel continuar a viver apenas no mundo dos sonhos.
Era mais fácil.
Escutou a Dr.ª Isabel a pedir ao Dr. Antunes que a sustituísse junto de si.
Sentiu-o aproximar-se e como este ternamente agarrou na sua mão.
Como lhe afagou o rosto.
Estes gestos souberam-lhe bem. À quanto tempo não recebia assim um carinho.
Sentiu-se invadida por um calorzinho gostoso que ainda mais a relaxou.
Queria continuar assim indefenidamente... acarinhada. Era tão bom...
Estranhou este sentimento. À tanto tempo que não o sentia...
Vieram-lhe à memória excertos da sua paixão com Paulo.
Até agora o único homem da sua vida.
Recordou o quanto se apaixonara perdidamente, desde o momento em que lhe chegara à fala no bar da esquina.
Ficara espantada com o seu inesperado convite para sairem juntos... as invejas que provocou nas amigas, tendo algumas até, deixado de lhe falar... e como se dera pela primeira vez àquele homem que assim a arrebatara e delicadamente a fizera pela primeira vez sentir-se uma mulher completa.
Não se arrependia de lhe ter oferecido a sua meninice.
Afinal, fora uma paixão arrebatadora e feliz.
Com todos os encantos, parecera estar a viver um conto de fadas... enquanto durou.

Sentiu o calor e o cheiro do after shave do rosto de Jorge junto do seu.
Inalou o suave perfume masculino que lhe entrava nas narinas, abrindo lentamente os olhos sem se mover.
Viu o rosto másculo junto do seu, com os olhos semicerrados, como se fosse beijá-la num arrebatamento.
Aguardou um instante... como demorava e sentia desejo desse beijo, lentamente levantou um pouco a cabeça e num gesto lento mas resoluto, encostou os seu aos lábios de Jorge...


Jorge contemplava e pensava na beleza daquele rosto e o quanto o atraía.
Só agora, que esta estava ali desfalecida, indefesa, sentiu que poderia ser mais que admiração o que o motivava a contemplar aquele ser belo, mas inanimado. Sentiu uma vontade indómita de a confortar e acarinhar amorosamente. Sentiu-se invadido por uma ternura infinda.
Olhando os seus lábios carnudos, teve um desejo repentino de a beijar... abraçar, dar carinho. Trazê-la de novo à vida.
Sabia que não deveria fazê-lo. Não era correcto.
Recriminou-se mentalmente por ter pensamentos destes, fora de contexto, num momento tão dramático.
- Ganha juízo, Jorge. – Pensou. – És estúpido? Controla-te...


De repente sentiu os seu lábios esmagarem-se nos de Ana, num beijo furtivo.
Abriu os olhos surpreso.
Os seus lábios beijavam Ana, como? Não se dera conta...
Ergueu-se de imediato e ficou a olhá-la, olhos nos olhos.
Ele de olhos esbugalhados.
Ela enternecida e ligeiramente sorridente.
Jorge ficou atordoado, não soube de imediato que fazer ou dizer...
Desviou o olhar
- Eu... eu só queria... desculpa... – balbuciou.
Ana, apenas sorriu e continuou deitada a olhá-lo.
Jorge, acabrunhado deu meia volta e abandonou visivelmente transtornado o gabinete.
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© Guilherme Faria



24 novembro 2005

Luís Monteiro da Cunha

A Decisão... (9)

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Ana seguiu-a como um cordeiro.
Sabia para onde a levava a Dr.ª.
Dirigiam-se aos escritórios, onde se situava a tesouraria, para fazerem as contas totais do que tinha direito a receber por lei… e seria o adeus à firma. O adeus à Dr.ª Isabel…
Os seus pensamentos estavam um torvelinho. Que faria agora? Teria de recomeçar tudo de novo. Quando conseguiria arranjar um trabalho decente, bem remunerado e pago a horas, como nesta firma? Sentiu-se desolada e moralmente vazia.
De repente, sem aviso ou um ai, foi-se abaixo. Sentiu-se envolvida num manto negro, as pernas fraquejaram e perdeu os sentidos. Caiu no solo daquele corredor, com um baque surdo.
A Dr.ª Isabel, de imediato se voltou e ao aperceber-se da situação, baixou-se gritando alto e bom som a pedir ajuda. Logo o corredor se encheu de funcionários, que gentilmente, carinhosamente até, a pedido da Dr.ª, pegaram com todos os cuidados naquele corpo belo, mas inerte, transportando-o para o seu gabinete.
Esta na frente, abria caminho e já no interior, preparou o seu canapé preferido para receber Ana, que cobriu de imediato, com uma manta leve que providenciou, envolvendo-a com zelo e carinho.
Agarrou numa das mãos de Ana, arrumou os cabelos em desalinho, fazendo-lhe umas festas leves no rosto.
Mandou sair toda a gente, agradecendo a ajuda e a preocupação, mas queria ficar a sós com a sua menina.
Todos saíram, excepto o Dr. Antunes.
Este ficou encostado à porta do gabinete, a olhar Ana e a Dr.ª, enquanto esfregava as suas mãos e entrelaçava os dedos frenéticos. O rosto do Dr. Antunes estava transfigurado. Era um misto de espanto e apreensão. Olhava-as junto do canapé, mas o olhar vago e ausente, denunciava que o seu espírito vagueava por outras paragens, já não as via. Os seus pensamentos eram confusos. O seu peito encolheu-se, o coração ficou minúsculo. Estava lívido.
Tentou controlar-se. Porque estava assim? Afinal tratava-se apenas de uma simples empregada que desmaiou. Nada demais. Até já nem era empregada do atelier. Depressa acordaria e tudo voltaria ao normal. Não mais a voltaria a ver e poderia levar em paz, como sempre fizera, a sua solitária vida de solteirão voluntário.



O Dr. Jorge Antunes, era um homem triste e amargurado.
A vida castigara-o de várias maneiras.
Apesar de auferir um bom rendimento na firma e ter uma boa posição social na sociedade, faltava-lhe algo que o fizesse sentir totalmente completo.
Era solteirão por opção.
Vivera maritalmente com uma jovem moderna, de nome Beatriz, muito mais nova que ele.
Mas esta relação era apenas de amizade e conveniência mútua e enquanto cada um o desejasse.
Nunca assumiram qualquer compromisso pessoal ou familiar. Cada um vivia a sua vida e apenas em casa pareciam um casal. Os afazeres caseiros eram feitos por um e outro sem criticas ou compromissos. Eram unos e sem tabus.
Completavam-se sexualmente e emocionalmente como amantes.
Cada um fazia o que bem lhe dava na gana, sem justificações ou reprimendas.
Pensava ser esta a relação perfeita.
Mas mesmo essa relação sem compromissos, não dera certo.
E quando um dia, adoentado, chegou mais cedo a casa e encontrou a Beatriz na sua cama, com uma amiga em pleno acto lésbico, a sua auto-estima ruiu completamente.
O seu ego masculino, já de si fragilizado por nunca se ter sentido à vontade com as mulheres, sentiu-se quebrar em mil pedaços, perdendo assim quase toda a esperança de amar a vida ou ser amado.
Aceitara viver assim, nestas circunstâncias modernas, achando que seria o mais razoável. Sem pressões ou problemas de ciúmes, de controlo pessoal… bem se enganara. Fora enganado e o pior de tudo, a traição da relação fora com uma mulher, não conseguia conceber tamanha afronta. Com um homem, possivelmente até compreendia, dado que Beatriz nunca lhe prometera nada e era livre de ter os homens que quisesse, a única condição imposta mutuamente no início da relação, seria a de que nunca nenhum dos dois levaria as suas conquistas para casa.
Separaram-se sem discussões e Jorge entrou em depressão. Habituara-se a ter alguém que o escutava e aconselhava.
Demorou, mas conseguiu esquecer o assunto e retomar a vida normalmente.
Desde então, tornou-se ainda mais reservado e precavido com a comunidade do sexo oposto.
Fechou o seu coração e nunca mais olhou para uma mulher com lascívia…
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© Guilherme Faria

20 novembro 2005

Luís Monteiro da Cunha

A Decisão... (7)

Choro de um anjo
imagem daqui
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Ficaram os dois a olhar o molde e o vestido, enquanto Ana nas suas costas, ainda sentada no cadeirão, estava revoltada consigo própria por ter feito tamanha estupidez.
O que mais lhe doía, era o facto de desagradar a Dr.ª Isabel, perdendo assim a confiança que esta lhe oferecera. A única pessoa que sempre a apoiou e lhe deu a mão quando mais necessitou. O que haveria de fazer? Iria colocar o seu destino nas mãos da Dr.ª Isabel. Aguentaria estoicamente a sua decisão, possivelmente seria o despedimento imediato, acompanhado das habituais recriminações.
Sabia o quão importante era esta colecção para a firma. Seria um salto qualitativo e quantitativo nos meandros da moda nacional e internacional, com o devido reconhecimento publicitário. Como dissera a Dr.ª Isabel no início da colecção:
- «Meninas! Espero de vocês o profissionalismo e a dedicação a que já me habituaram. Se conseguirmos terminar a colecção “Nevada” no prazo estipulado e com a qualidade que nos é hoje reconhecida, penso poder anunciar a todas, que esta firma poderá almejar outros voos. Choverão encomendas, principalmente com as portas que esta colecção nos abrirá. Confio em todas, como se fossem minhas filhas e sei que darão o vosso melhor. Esta encomenda é de corte especial e minucioso, nunca se fez nada parecido nesta casa. Por isso mesmo, peço-vos muito cuidado. Qualquer dúvida, agradeço que não inventem, não tentem resolver por vós próprias as dificuldades que se apresentem, perguntem à D. Olga, vossa encarregada, como devem fazer. Ela vos ajudará ou o Dr. Antunes. Agora… vá… vamos lá trabalhar… – Uma salva de palmas saudou a comunicação».
Agora, Ana deitara tudo a perder.
Olhou de novo para o par que continuava de costas voltadas para si.
Examinavam os seus rabiscos, feitos trapos, em cima da secretária do Dr. Antunes, enquanto falavam baixo. Ana tentou perceber o que diziam, mas apesar de toda a sua acuidade auditiva, não lhe foi possível perceber qualquer palavra. Deu um suspiro profundo e aguardou a sua sentença imóvel, disposta a aguentar tudo o que lhe dissessem, com humildade.
De repente, o par voltou-se e olharam ambos, profundamente Ana nos olhos.
Esta aproveitou para tentar adivinhar nos seus semblantes o que pensariam e lhe diriam.
Mas novamente se voltaram para a secretária sem que formulassem qualquer som.
Ana começou a ficar nervosa. O seu ser, a sua fibra, já não podia aguentar mais tempo calada e quieta. Precisava de ouvir qualquer som. Mesmo que lhe desagradasse. Para se defender. Mas como se poderia defender, se não era acusada? Tentou sossegar-se pensando no quanto devia moralmente à Dr.ª Isabel. Permaneceu calada e submissa, apesar de expectante e nervosa.
De repente o silêncio foi quebrado.
- Ana, podes chegar aqui? – Pediu a Dr.ª Isabel sem se voltar.
Lentamente Ana levantou-se e aproximou-se da secretária.
O vestido que idealizara na bancada de corte do atelier, estava ali estendido naquele tampo da secretária. Ainda não estava completamente costurado, mas já estava alinhavado o bastante para se perceber a forma e o feitio.
Diz-me Ana querida… que pensavas fazer? Explica-me – Pediu a Dr.ª Isabel.
Ana, ficou acabrunhada e estupefacta, por tão inesperado pedido. Que estavam a fazer? A estudar o seu simples desenho? Depressa se recompôs e fazendo um esforço de memória, agarrou no vestido e com a voz sumida, começou a explicar o que idealizara para aquele modelo de trajar.
Tratava-se de um vestido de noite, com decote em “ V ” e mangas compridas, mas abertas em quase toda a extensão dos braços, com pequenas fitas que poderiam servir para apertar a manga na sua extensão, se o desejassem, com laços.
Os punhos eram fechados e disfarçados com uma pequena pluma preta, que terminava em pingente, podendo ser rematado com uma pedra preciosa. Tinha pensado numa ametista.
As costas, estariam expostas em “8” podendo unir-se as faixas se o desejassem, com uma fita do mesmo tecido debruado a prata, no pescoço e no dorso, sendo esta de tamanho variável, podendo deixar quase a totalidade das costas à vista, se desapertado, ou apenas parte.
Todos os cortes à vista, seriam debruados a fio de prata.
Não existiam zipers ou botões.
No peito, do lado esquerdo, tinha pensado num bordado a negro e prata com motivos florais. Mas pequeno, para não sobressair demais. No ventre, seria bordada uma simples rosa transversal.
- E como pensavas fechar nas pernas? – Perguntou a Dr.ª Isabel - Ainda não consegui compreender o teu raciocínio nessa parte. Nem pelo esboço, nem aqui no modelo.
Ana, exemplificou o que pretendia para rematar nas pernas. Explicando minuciosamente todos os detalhes da bainha e do que em principio faria se pudesse concretizar a idealização do vestido que terminaria em folhos ligeiros, de corte transversal, como se fosse uma pequena e falsa cauda lateral, a descaír para a esquerda.
- Pois muito bem, – Disse o Dr. Antunes de repente – mas estamos a perder tempo precioso Dr.ª. Que vamos fazer agora?
A Dr.ª Isabel, olhou-o, deu um pequeno suspiro e lentamente rodeou a secretária sem lhe responder, sentando-se.
- Vamos fazer o seguinte Dr. Antunes... – Disse a Dr.ª Isabel, fazendo uma pausa e pousando os cotovelos no tampo, unindo as palmas das mãos e os dedos, como se quisesse fazer uma prece.
Ana ficou hirta e paralisada. Semi-cerrou os olhos e preparou-se mentalmente. A sua hora chegara. Havia chegado a hora da decisão. Por fim acabava o sofrimento, a tortura que estava a passar estava a terminar.
Como não ouviu qualquer voz, abriu os olhos e reparou no doce rosto, quase angelical da Dr.ª Isabel, que a fitava sem proferir palavra.
- O Dr. Antunes, já sabe... vai fazer como combinámos. Vamos ver se ainda conseguimos salvar a encomenda... - Disse a Dr.ª Isabel, dirigindo-se de seguida para Ana:
- Minha querida… que tens no teu vestuário?
- Apenas um guarda-chuva, um casaco e pouco mais… – Disse Ana perplexa, não compreendendo o inusitado teor da pergunta.
- Muito bem… Podes então recolher rapidamente as tuas coisas? Fazes-me esse favor querida? Depois volta aqui para conversarmos sériamente.

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© Guilherme Faria

18 novembro 2005

Luís Monteiro da Cunha

A Decisão... (6)


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Ana estava num banco de jardim a chorar. Tinha sido despedida de mais um emprego. O primeiro emprego sério que arranjara desde que chegara à cidade. Antes tinha feito alguns serviços como empregada de mesa em cafés, mas nunca trabalhava mais do que uma ou duas semanas - Distrais os clientes - Diziam os patrões. Que nada. Ela bem notava que a despediam a contra gosto Nunca tiveram tantos clientes como enquanto Ana lá trabalhava. Pelo menos ela não tinha mãos a medir, eram só pedidos. Eram apenas ciúmes das esposas que obrigavam os maridos a despedi-la. O pior de tudo, é que não lhe pagavam o acordado, dando-lhe apenas uns trocos.
Já devia quase dois meses de renda na pensão onde alugara um quarto e a velhota, dona da pensão, exigia o pagamento até ao final desse mês ou o seu destino era o olho da rua.
Estava Ana a soluçar e a maldizer o seu destino, quando alguém se senta a seu lado trazendo à trela um caniche que imediatamente saltou para o colo de Ana tentando lamber as lágrimas.
- Jerónimo! – Disse a dona – Deixa a menina, não vês que está triste?
- Deixe lá, eu gosto de cães. - Balbuciou Ana, olhando a sua interlocutora e enxugando o rosto. Era uma senhora de meia-idade. Pelas roupas via-se que tinha bom gosto e posses para isso.
- Desculpe o Jerónimo – disse a desconhecida estendendo a mão – Chamo-me Isabel e você?...
- Sou Ana.
- Muito prazer em te conhecermos Ana, não é Jerónimo? – Disse alegre para o canito - Mas então diga-me… que mal fez este mundo a uma jovem como você, para estar assim tão triste? Desculpe-me a ousadia da pergunta... só responde se quiser...
Passaram o resto da tarde juntas. Ana contou-lhe quase a sua vida toda e a sua companheira de ocasião, disse-lhe que era empresária, não tinha descendência e enviuvara quase há cinco anos. Possuía um atelier de moda onde trabalhava para os melhores costureiros e aderecistas do país. No final da tarde, pareciam conhecer-se profundamente, tendo a Isabel convidado Ana a trabalhar consigo no seu atelier.


- Então que se passa?... A Dr.ª Isabel acabara de entrar. Logo o Jerónimo saltou para o colo de Ana, faminto de carinhos.
- Dr.ª - Interpelou-a o Dr. Antunes – Seja bem vinda. Queira sentar-se.
- E então?... – Disse a Dr.ª Isabel sentando-se na poltrona do Dr. Antunes.
- O que se passa Dr.ª… é que desta vez a menina Ana, arranjou um problema dos grandes…
- Como assim? – Inquiriu.
- Estávamos quase a terminar a encomenda da “Nevada”, quando a menina resolveu desenhar arabescos, alterando por completo todo o desenho de corte.
- E não se pode remediar o assunto? – Inquiriu a Dr.ª Isabel.
- Infelizmente… não! Eram as últimas peças daquele tecido. Agora não vamos conseguir terminar dentro do prazo para o desfile. É uma tragédia! É uma tragédia! – Disse levantando as mãos aos céus.
- Calma! Calma… Dr. Antunes, pode fazer-me o favor de me trazer uma das peças cortadas e um molde do desenho da Ana? Obrigado. – Fazendo-lhe sinal com o olhar para as deixar a sós.
Lentamente, levantou-se e aproximou-se de Ana. Colocou uma mão no ombro de Ana, esta levantou o rosto olhando os olhos piedosos da Drª Isabel e ficou estática, sem saber que falar. As palavras enrolavam-se-lhe na garganta, desatando num pranto inconsolável.
- Calma, calma. Então diz-me, Ana… o que se passou?
Ana tentou explicar que durante a sua hora de almoço não saiu, como as colegas, do atelier e resolveu adiantar o serviço, começando por limpar a bancada de corte, mas sem se dar conta, começou a desenhar nas peças dispostas sobre a bancada à espera do corte. Começou a inventar modelos, em jeito de brincadeira, quando foi surpreendida pela encarregada da secção. Para disfarçar ausentou-se, mas com a intenção de voltar e apagar os seus desenhos. Entretanto as colegas regressaram e iniciou-se o turno de trabalho. Não mais se lembrou do que fizera. Nunca pensou que a sua colega iria seguir aqueles simples riscos de giz.
- Estás ciente deste problema, não estás?
- Claro, Dr.ª, mas… esqueci-me completamente dos desenhos, eram tão simples e nunca pensei que enganariam a cortadeira…
- Bem. Vamos ver o que se pode fazer… – Dizia a Dr.ª, quando de repente batem à porta - Cá está o Dr. Antunes com o molde…
- Repare Dr.ª, - Disse o Dr. Antunes mostrando um vestido incompleto ainda – Quando fui avisado, já estava a ser costurado… lamento.
- Mostre-me o molde – Ordenou a Dr.ª Isabel apontando o tampo da secretária – Vamos lá ver a obra prima…

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© Guilherme Faria

16 novembro 2005

Luís Monteiro da Cunha

A Decisão... (5)


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Era com sofreguidão que absorvia cada paisagem que passava veloz pela vidraça do Alfa. Estava a chegar ao Porto, segundo foi anunciado pelo intercomunicador da composição. Preparou-se para sair, apertando a pequena mala ao peito. Sentiu o freio da locomotiva que atravessara languidamente o túnel escuro, desembocando na estação de S. Bento. Caminhou no cais seguindo os companheiros de viagem, olhando furtivamente o tecto de vidraças que pareciam já seculares. No átrio da estação, parou deslumbrada a observar os motivos existentes nos painéis de azulejos que ornamentam o átrio da estação, de cores azuis esbatidos, mas cheios de significado. Viu ali o labor portuense representado com minúcia. Sentiu-se criança de novo. Abismada, nem reparava nas pessoas que passavam a correr alheias ao seu deslumbramento. Chegou a uma das portas existentes e hesitou. Qual o rumo a seguir? Esquerda ou direita? Pela primeira vez olhou os prédios da cidade. Pareceu-lhe uma cidade velha, bafienta, quase sem cor. No entanto, esta era viva, via-se pelo trânsito caótico e pelo mar de gente que calcorreava os seus passeios numa azáfama indescritível. Após um suspiro, ganhou coragem e enfrentou a cidade.


- Menina Anaaa!
A visada ficou como que petrificada. O sangue gelou nas veias. Ficava sempre assim, quando aquela voz gutural do Dr. Antunes se dirigia à sua pessoa.
- És surda… ou quê? Vem imediatamente ao meu gabinete! – Ordenou do alto do seu aposento.
Ao primeiro grito, todo o atelier parou o que estava a fazer para olharem a “ nova” como lhe chamavam. Naquele momento desejou ser um mosquito para poder sair dali sem ninguém a ver.
Lentamente, entre sorrisos de troça e outros de solidariedade, encorajando-a, subiu os quatro degraus em direcção do gabinete envidraçado, de onde o Dr. Antunes controlava cada movimento das operárias no piso inferior.
- Que se passa contigo? – Gritou – É estúpida ou quê? Deves ter algum parafuso a menos. Sabes o que fizeste?
As lágrimas começaram a correr pelas faces de Ana.
- Não vale a pena chorar. Não me comovo com choros. Foste longe demais! – Ana nem balbuciou – Desta vez foram cento e cinquenta peças para o lixo.
- Desculpe Dr.
- Desta vez não tens desculpa. Nem a tua madrinha te salva. Vou comunicar à Dr.ª Isabel e de certeza que desta vez vais para o olho da rua. Já te tinha avisado.
A simples menção do nome da Dr.ª Isabel, fez com que Ana se prostrasse no chão em choro convulsivo enquanto pedia perdão.
- Lamento Ana. – Disse já mais calmo – Já mandei chamar a Dr.ª para resolver este problema contigo. Vá levanta-te. – Enquanto lhe oferecia uma mão. - Não te quero mal rapariga. Mas és muito aluada. Vá, senta-te aqui e espera pela Drª – Chegando-lhe um cadeirão.
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© Guilherme Faria

14 novembro 2005

Luís Monteiro da Cunha

A Decisão... (4)


Soergueu-se resoluta. Iria ser alguém. Mostrar-lhe-ia que não necessitava dele para ser feliz.
Afinal não era nenhuma sonsa, nem deficiente. Tinha bons braços, cabecinha e ideias, para trabalhar e angariar os seus próprios proventos sem depender de ninguém.
Mas para isso teria de mudar de cidade. Esta era pequena demais para os dois, seria impossível viver ali.
Até porque ainda era uma cidade de província, tacanha, em que quase todos se conhecem e por respeito à abastada família de Paulo, quando se soubesse da separação, ninguém a aceitaria ou daria qualquer apoio. Seria sempre conotada ao Paulo, fizesse o que fizesse. Afinal, este, era o segundo filho do Dr. Tavares. Médico oncologista, de renome conceituado, com consultório em várias localidades. A família possuía uma quinta brasonada nos arredores da cidade fundada pelos seus antepassados. Orgulhavam-se dos ente-queridos que conviveram com a realeza. Pelo que a família era estimada por todos, sendo ouvida nas decisões mais pragmáticas do concelho e do clero. Devia-se à família Tavares, o recente abanão rumo ao desenvolvimento que a antiga vila deu. Criaram-se novas urbanizações de cariz social, nos terrenos cedidos pela família à autarquia, bem como um pequeno parque industrial para os jovens resolutos e empreendedores iniciarem os seus negócios, captando ainda outros investidores, gerando emprego e melhoria económica para a localidade.
Por tudo o povo era grato ao Dr. Tavares.
A família de Ana era simples e modesta.
A sua mãe, costureira de profissão e modista por vocação, fora sempre contra o estilo de vida alegre e prazenteiro da filha.
O pai, recentemente reformado da EDP, praticamente não tinha acompanhado o seu crescimento, andara sempre por fora em serviço pelas barragens do país.
Fora, como dizia amiúde, uma filha órfã de pai vivo.

Mas com o pai, podia ela bem. Era a sua menina querida e com uns abraços e beijos, derretia-se todo e embora não gostasse, deixava as decisões para a esposa, a Dona Fátima, que ao fim e ao cabo fora quem sempre administrara a família.
Já a Fatinha, como era conhecida desde menina, era lenha de outra fogueira. Geria como podia o pequeno negócio de costura. Apesar de estóica e sagaz, nunca conseguiu vergar a vontade férrea de Ana na luta pela independência total. Mãe e filha nunca chegaram a ser amigas. Toleravam-se como podiam, mas amiudadas vezes estalavam as discussões, invariavelmente por a filha não querer seguir a profissão da mãe e raramente a ajudar no negócio. Quando as encomendas apertavam, era certo e sabido que haveria disputa, as quais, apenas apressaram a saída precoce de Ana do lar maternal para consternação geral e vergonha da família. A mãe bem a tinha avisado para não se ajuntar com o filho do doutor.
“Mulher... que é mulher de honra, - dizia - só se deita na cama com um homem depois dos sagrados laços do matrimónio”. Ana fez orelhas moucas e levou a sua avante, acabada de atingir a maioridade.

Como consequência a mãe adoeceu e nem saiu de casa durante uns tempos, tal a vergonha, quando começou a ser alvo de risos pelas costas. Mas o tempo tudo cura e por fim resignou-se.
Mas Ana não queria recriminações. Não lhes diria nada. Quando soubessem de tudo, queria estar longe.
Apesar de tudo custava-lhe não se despedir pelo menos do pobre pai. Mas se fosse a casa deles, sabia ser mais que certa uma discussão e reprimendas da mãe.

Não, não precisava disso. Precisava de se sentir livre. De se descobrir a si própria.
Demandaria uma grande cidade, onde ninguém a conheça. Lá poderia levar a vida que quisesse. Tentaria esquecer o Paulo, sem reprovações ou conselhos de conhecidos intrometidos e maçadores.
Ganharia asas para novos voos… não interessavam quantas vezes cairia. Levantaria sempre a cabeça… fazia parte da sua maneira de ser, guerreira escorpiniana. Chegara a hora da verdade, tinha de seguir sozinha por esse mundo fora…

Acordou sobressaltada. Sentia-se a cair. Alguém abrira a porta do prédio. Acabrunhada, levantou-se de imediato esfregando os olhos. Uma velhinha sorria-lhe pedindo desculpa por a acordar, mas precisava sair, ia à padaria, disse. Ana desculpou-se, tinha adormecido na entrada e nem dera pelo frio cortante. Estava gelada. Esfregou os braços numa tentativa vã de os aquecer, olhando em redor.

O café defronte estava aberto. Na praça de táxis já havia um veículo na postura. Hesitou, entre ir directamente ao café ou apanhar o táxi.

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Guilherme Faria

12 novembro 2005

Luís Monteiro da Cunha

A Decisão... (3)



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Ana pensou na sua curta vida a dois.
Como se dera gratuitamente àquela relação e como se anulára tantas vezes para esta continuar a dar certo. Os sapos engolidos. Tantas frustrações, tantas mágoas, os ciúmes contidos. As esperanças perdidas uma atrás da outra.
Nem o sexo, antes louco, desenfreado, ultimamente apenas consentido, os salvou.
Até só restar o respeito mútuo num conviver de irmãos. Mesmo esse tipo de relação perdeu-se na noite passada.
Recordou a discussão violenta.
Viu o belo rosto de Paulo transfigurado numa máscara hedionda, desconhecida para si, onde predominavam a cólera e a raiva. A bofetada soou-lhe a um tiro de canhão, que lhe deixou os ouvidos a estralejar e um zumbido constante durante alguns minutos.
A imediata luta corpo a corpo que se seguiu. Os móveis a quebrar num ruído ensurdecedor, enquanto se agarravam e empurravam, entrecortado pelos palavrões desprezíveis que a alcunhavam de mulher da rua e nunca pensou ouvir dos lábios que beijou.
O seu ego sorriu-se, ao recordar como lhe acertou com a sua adorada jarra, mesmo em cheio na testa, estatelando-o no chão, inanimado. Vendo-o prostrado, temeu pela sua vida. Cumulou-o de beijos e chamando o seu nome aflita, este por fim, acordou do desfalecimento.
Ficaram ali sentados no chão, alguns minutos que lhe pareceram uma eternidade. Lado a lado, calados, sem saber que dizer.
Paulo levantou-se lentamente ainda zonzo, a esfregar a testa já arroxeada.
Olhou-a ainda sentada no chão da sala e autoritáriamente sentenciou:
- Para mim... chega! Esta relação não é saudável para nenhum de nós. Podes ficar “aqui” – dando ênfase à palavra - enquanto não arranjares onde ficar. Entretanto volto para casa de meus pais. Avisa-me quando puderes sair.
Abandonou de imediato a habitação que fora o seu lar nos ultimos dois, quase três anos. Ana ficou sentada a soluçar baixinho, até que se levantou e dirigiu-se ao quarto onde se prostrou na bela cama de dossel.
Não conseguiu adormecer, os soluços secos na garganta dorida, como se uma bola pequena ali estivesse atravessada, impediram-na.
Quase de manhã, tomou a decisão de dar outro rumo à sua vida.
Paulo tinha razão. Não podia continuar nesta situação. Dependente de Paulo, da sua fama e lucro nas passereles.
Morria de ciúmes em cada revista folheada, onde Paulo posava com belas manequins seminu.
É verdade que quase nada lhe faltava na vida. Qualquer desejo seu, logo Paulo a satisfazia, apenas o seu amor regressava a casa cada vez mais tarde, quando não telefonava a dar-lhe conhecimento de que teria de dormir fora, porque a sessão acabou muito tarde e não dava para regressar nessa noite. Também ela não dormia nessas noites, magicando o que se estaria a passar. Que estaria ele a fazer, a dormir? Sozinho? Ser-lhe-ia fiel no meio de tanta tentação?
A tudo assistiu calada, admirava-se como o conseguia. Mas o temor de o perder, melindrando-o, era maior. Ultimamente andava irritadiço, desconhecia a razão. Com o tempo tornou-se um amor doentio, possessivo. Desconfiado. E o pior de tudo, achava que era unilateral.

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Guilherme Faria

10 novembro 2005

Luís Monteiro da Cunha

A Decisão... (2)



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Depressa chegou à praça de táxis.
Estava deserta, àquela hora tão matinal.
Frustrada, destapou o fino pulso e olhou o relógio que o adornava, prenda de anos dele.
A lembrança do seu belo rosto, enfureceu-a, tentando retirá-lo de imediato do pulso com intenção de o atirar violentamente para a sarjeta. Cega de fúria, não conseguiu abrir a bela pulseira de imediato. Olhou os ponteiros durante três segundo e acalmou-se.
Afinal, pensou, sempre era uma peça de ouro, valia uns tostões. Nunca se sabe se ainda não precisaria dele para a tirar de qualquer aflição monetária.
Resfolegou momentâneamente e olhou de novo a postura deserta.
As lágrimas abundantes que haviam brotado de seus olhos quase toda a noite, haviam já secado com a leve brisa, fria, que lhe percorria todo o corpo.
Arrependeu-se de não ter vestido as calças de ganga, em vez da fina e larga saia de folhos com pendentes que lhe dava até aos pés. Bonita, mas ineficaz numa manhã gélida.
Olhou em redor, procurando um estabelecimento aberto onde se pudesse acoitar enquanto aguardava a chegada do táxi, e proteger-se do frio. Mas todas as portas estavam fechadas.
Não se via vivalma na rua, apesar do dia já ter nascido à mais de uma hora.
Lembrou-se que era domingo, dia de descanso.
A pequena cidade de provincia, que mais parecia uma vila ainda, estava em festa.
Reparou nos arcos luminosos, agora apagados, que alindavam as artérias. Todos se deitaram tarde e acordavam mais tarde ainda.
- Maldita festa, maldita cidade! – disse entredentes, com raiva mal contida, contraindo o belo rosto e semi-cerrando os surpreendentes olhos verde-esmeralda.
Predisposta a aguardar o seu transporte e cansada da noite sem dormir, procurou acomodar-se na entrada do prédio próximo, sentando-se no grosseiro tapete de sizal que cobria o chão frio. Enrolou o melhor que pôde a saia comprida nas pernas, procurando descansar um pouco encostada à porta, cerrando os olhos cor de mar revoltado.

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Guilherme Faria

08 novembro 2005

Luís Monteiro da Cunha

A Decisão...(1)

imagem daqui

No momento em que transpôs a ombreira da porta, sabia que não haveria retrocesso possível. A sua consciência, bem como o seu orgulho não o permitiriam.
Parou. Lentamente, levantou o queixo, semi-cerrou os olhos fitando as parcas nuvens cinzentas, como a sua alma, que lentamente cruzavam o firmamento. Também elas demandavam novos destinos, sem amarras ou contemplações. Como as invejou.
Permaneceu imóvel por breves segundos, num momento de indecisão, como se buscasse na memória alento para o rumo que deveria seguir.
A manhã estava gélida, aconchegou o casaco de malha ao pescoço e lentamente dobrou o corpo pegando na pequena mala que jazia no chão. Era leve, nada tinha de lembranças. Apenas umas peças de roupa e calçado, recolhido à pressa. Nada levava que a pudesse recordar do passado. Apenas queria esquecer, e se possível bem longe dali.
Decidida, abandonou a entrada daquele prédio onde morara a felicidade, mas que ultimamente fora o seu inferno.
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Guilherme Faria

07 novembro 2005

Luís Monteiro da Cunha

Para Adrika... PARABÉNS!

Hoje alguém faz anos.
Tanta gente... dirão vocês.
Sim... mas nem todos terão o prazer de me conhecer.
Ou de ter amigos como vós.
A nossa amiga Adrika Ribeiro

ADRYANA
Está de parabéns.

Visitem-na nos seus cantinhos simpáticos:
A vida de Sofia - onde conta a história da sua vida.
O Crepúsculo - onde tem uma parceria com Elise.
E dêem-lhe os parabéns. Ela merece.
Nesta data memorável, desejo que desfrutes de tudo quanto almejas na vida.
Parabéns querida amiga
ADRIANA RIBEIRO
que contes muitos e muitos e muitos e muitos

lmc

Luís Monteiro da Cunha

O fim do inicio...

Vejo-me deitado.
Estava a dormir, num prado azul! (porquê azul?) As ervas eram azuis claras; as árvores azuis mais claras ainda. Tantos tons de azul, numa cambiante de paleta matizada.
Acordei com salpicos no meu rosto. Pensei ser a chuva.
Mas o sol era radioso e inundava o sonho de claridade.
Esfreguei meus olhos para se habituarem à luz.
Vi teu rosto, lavado de lágrimas, sobre o meu. Observavas-me com desvelo e ansiedade. Teu rosto, tinha a profundidade angelical dos anjos, que apesar da dor dos pecados, sorriem.
Confundido, beijei-te cada fio salgado e inquiri com o olhar fito no teu.
Sem palavras, olhas em redor e mostras-me o local onde nos encontramos.
Um prado azul, cortado por uma luz intensa de cor laranja numa gradação de amarelos alvos. Como uma cortina que não deixava abarcar o outro lado do prado. A luz laranja movia-se no sentido ascendente, em catadupas cadenciadas. Desvanecia-se no azul brilhante do céu. Como escada rolante.
Percebi. Havia chegado a hora. Era o ponto de embarque. Apertei-te no meu corpo, como se pudesse fundir o teu ser com o meu e senti um calor aconchegante a invadir-me; uma paz interior que me preencheu. Abandonaste-te nos meus braços e escutei teus soluços surdos. Incapaz e imóvel fiquei. Afagava as tuas melenas trigueiras num gesto abnegado, tentando assim, serenar teu pranto.
Nada mais recordo deste sonho.

lmc

Luís Monteiro da Cunha

Além -Tributo

Outras vias surgem no horizonte.
Nem sempre o melhor caminho é o mais curto.
Fica no coração a alegria da modesta contribuição,
nas pequenas páginas do livro de sua vida,
em que és concerteza, personagem principal.
A saudade, esbate-se no tempo!
Mas enquanto não se esbate, fica uma sensação de vácuo!
bjinho
lmc

03 novembro 2005

Luís Monteiro da Cunha

Criança - Procura-se!

Pára!!!
A sério. Pára!!!

Esquece o que estavas a fazer.

Lê apenas estas linhas singelas e esquece, o trabalho, o trânsito, o barulho que te rodeia…
Esvazia a tua imaginação, respira fundo e semi-cerra os olhos…
Abstrai-te completamente deste mundo físico…
Respira profundamente, uma, duas, três vezes. Enche os pulmões e relaxa o mais possível todo o teu ser carnal. Esquece o local onde te encontras.
Eleva-te na efémera consciência gravitacional de constelações e estrelas, que começam a girar à tua volta, numa dança sem nexo, mas plena de beleza. Repara na Cassiopeia, tão linda. Constelações passam frente aos teus olhos em catadupa, apetece tocar-lhes. Galáxias como nuvens de poeira a girarem devagarinho…

Lentamente, regressa ao planeta Terra.
Estás agora num prado verdejante, escuta o som melodioso do riacho que o atravessa. Abundam pequenos arbustos, flores, árvores e borboletas multicores, numa paisagem sem fim. Tenta acompanhá-las. Corres e saltas pelo prado verdejante. Tenta alcançar uma das borboletas. Tocá-la. Não consegues. Dás risadas pueris de contentamento. Pulas. Abres os braços e danças. Rebolas na erva, brincas com o esquilo que te foge de permeio.
Agora, estás deitado de costas. Arfante, descansas e contemplas o céu. Que lindo! Está tão azul. Mas de um azul tão azulado, como nunca tinhas visto.
Reparas nas andorinhas. Em bando, chilreiam felizes atrás umas das outras, num bailado pleno de sedução. Escuta-as. Os seus trinados, são melodiosos. Parecem crianças em bando, num qualquer jardim de nossa infância.
Agora regressa à tua consciência. Repara em ti.

Se conseguiste visualizar todas as imagens que te sugestionei...
Se conseguiste abstrair-te de tudo o que te rodeava…
Digo-te meu amigo e amiga…
Ainda existe esperança… para nós.
Porque algures na tua consciência, ainda habita uma criança, capaz de sonhar acordado em qualquer lugar. Capaz de ver a beleza onde só exista fealdade. O amor nas abnegações. O descanso espiritual no stress diário. Sons melodiosos e paz no meio da confusão…
Bem hajas. Não percas a criança que em ti habita. Chama-a mais vezes e deixa-a fluir no teu dia-a-dia. Faz uma criancice, como desejar um bom dia com um sorriso sincero à pessoa mais sisuda que encontras. Mesmo que a retribuição seja um olhar de reprovação. Terás uma vida mais leve e simples. Porque és uma criança e as crianças não são comezinhas ao ponto de esperarem resposta aos seus actos puros e sinceros, fazem-no porque assim lhes dita o coração. E são felizes. Porque não o somos todos?


lmc


(imagens do google)

02 novembro 2005

Luís Monteiro da Cunha

Não vou...

Abraçou-me!
Um abraço daqueles mesmo apertados!
Sussurrou-me ao ouvido:
- Sabes pai, é assim... tu vais embora, porque eu quero ver o filme!
Indrédulo, retorqui que tinha de ir trabalhar e não o podia ir buscar à escolinha mais tarde.
- Pai... vais para casa... depois vens-me buscar... e vais logo trabalhar, não é!?...
E foi-se juntar aos amiguinhos na salinha.

O que acham que eu poderia fazer?...

Sabem qual o filme que estavam a ver?...

Divirtam-se,

Fiquem bem

lmc

Luís Monteiro da Cunha

Do alfacinha...

…/ O Português em geral, e o alfacinha em particular, não é muito apreciador de subtilezas, de meias tintas, de ténues cambiantes. Talvez por ser habituado à luz dura e crua de Lisboa, que é a predominante e irrita, mas não estimula, nem contribui para afinar a sensibilidade; talvez que estando, por precisão, aguerrido contra as asperezas de um clima ventoso e agreste – o certo é que não estima demasiado a meia-luz da intimidade, o claro-escuro da vida interior. Para o lisboeta, animação, entretenimento, recreio, traduz-se por barulho, iluminação a jorros, contrastes e novidade que se introduza pelos olhos adentro. /…

In:
Não é Artista Quem Quer, de Raul Lino
O Independente
Lisboa, 2004


lmc

01 novembro 2005

Luís Monteiro da Cunha

Pr'a Bruxinha do Halloween...


Penso que um haloween sem bruxas
É como uma festa sem bebidas!
Sem contar, apareceu-me uma bruxinha,
com a vontade de me atasanar,
tirou-me do sério e fez-me brincar o jogo do gato e do rato!
Adorei!
E hoje, ainda me fez mais feliz.
Sussurrou-me no ouvido:
Olá, sou eu Luís!!!
Como foi o vosso halloween?
Divertiram-se?
lmc

Luís Monteiro da Cunha

JÁ TÁS C'OS COPOS...


JÁ TÁS C'OS COPOS,
JÁ ESTÁS, JÁ ESTÁS !!!
JÁ NEM CONSEGUES VER
ESTA FIGURA DE GENTE!!!!!!
ORA OLHA BEM DE FRENTE!!!
REPARA NA BELEZA DE FULANA!!!

Luís Monteiro da Cunha

OLÁ BONECA!!!


OLÁ BONECA!!!
I'M BLACK THUNDER!!!!
VOU-TE CONQUISTAR...
OLHA TRÊS MINUTOS PARA OS MEUS OLHOS...
E SERÁS...
MINHA...
PARA SEMPRE!!!!

Luís Monteiro da Cunha

MISTER ED


A DIABA!
TRANSFORMOU-ME EM "MISTER ED"
VINGANÇA... FELINOS DE MINHA VIDA!!!

Luís Monteiro da Cunha

QUANTOS SÃO? QUANTOS SÃO?




AFINAL QUANTAS SÃO?
SÓ UMA?
DEVES ESTAR A BRINCAR!!!
DAMOS-LHE UMA DENTADAS NAS CANELAS!!!
BOA! BOA!
GRITAM TODOS:
ÉS TÃO BOA!ÉS TÃO BOA!ÉS TÃO BOA!ÉS TÃO BOA!ÉS TÃO BOA!ÉS TÃO BOA!
ÉS TÃO BOA!ÉS TÃO BOA!ÉS TÃO BOA!ÉS TÃO BOA!ÉS TÃO BOA!
ÉS TÃO BOA!ÉS TÃO BOA!
ÉS TÃO BOA!ÉS TÃO BOA!ÉS TÃO BOA!ÉS TÃO BOA!

Luís Monteiro da Cunha

REFORÇO - PRO TURBO DA BRUXINHA




METE-TE C'O MEU IRMÃO LEVAS C'OS FELINOS TODOSSSSS
PUFFFFF MIAUUUUU
HOJE NÃO TENS DESCANSO!!!!
SUA ENDIABRADA!!!
VOU À CAPARICA E MOLHO-TE A CABELEIRA
E A VASSOURA FICA LOGO SEM GÁS!!!
HAHAHAHAHAAHAHA

Luís Monteiro da Cunha

NEGRO COMO CARVÃO - A Pedido!!!




MIIIAAAUUUUU!!!!!

VEM CÁ VEM BRUXINHA!
EU É QUE TE DOU A ALTA VELOCIDADE NESTA NOITE!!!
NEM QUE TENHAS TURBO NA VASSOURA!!!

Luís Monteiro da Cunha

A pedido!!! Com insistência louca!






Não é assado!!!

É directo do Infernoooooooo

Miauuuuu!!!!!

Pufff Puffff

Vou-te atasanar todinhaaaaaaaa!


Não vais dormirrrrrr hojeeeee!!!!!

Mete-te c'o gatinhoooooo meteeeee!!!!

HUHUHUHUHUHUHUHUHU