A Decisão... (6)
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Ana estava num banco de jardim a chorar. Tinha sido despedida de mais um emprego. O primeiro emprego sério que arranjara desde que chegara à cidade. Antes tinha feito alguns serviços como empregada de mesa em cafés, mas nunca trabalhava mais do que uma ou duas semanas - Distrais os clientes - Diziam os patrões. Que nada. Ela bem notava que a despediam a contra gosto Nunca tiveram tantos clientes como enquanto Ana lá trabalhava. Pelo menos ela não tinha mãos a medir, eram só pedidos. Eram apenas ciúmes das esposas que obrigavam os maridos a despedi-la. O pior de tudo, é que não lhe pagavam o acordado, dando-lhe apenas uns trocos.
Já devia quase dois meses de renda na pensão onde alugara um quarto e a velhota, dona da pensão, exigia o pagamento até ao final desse mês ou o seu destino era o olho da rua.
Estava Ana a soluçar e a maldizer o seu destino, quando alguém se senta a seu lado trazendo à trela um caniche que imediatamente saltou para o colo de Ana tentando lamber as lágrimas.
- Jerónimo! – Disse a dona – Deixa a menina, não vês que está triste?
- Deixe lá, eu gosto de cães. - Balbuciou Ana, olhando a sua interlocutora e enxugando o rosto. Era uma senhora de meia-idade. Pelas roupas via-se que tinha bom gosto e posses para isso.
- Desculpe o Jerónimo – disse a desconhecida estendendo a mão – Chamo-me Isabel e você?...
- Sou Ana.
- Muito prazer em te conhecermos Ana, não é Jerónimo? – Disse alegre para o canito - Mas então diga-me… que mal fez este mundo a uma jovem como você, para estar assim tão triste? Desculpe-me a ousadia da pergunta... só responde se quiser...
Passaram o resto da tarde juntas. Ana contou-lhe quase a sua vida toda e a sua companheira de ocasião, disse-lhe que era empresária, não tinha descendência e enviuvara quase há cinco anos. Possuía um atelier de moda onde trabalhava para os melhores costureiros e aderecistas do país. No final da tarde, pareciam conhecer-se profundamente, tendo a Isabel convidado Ana a trabalhar consigo no seu atelier.
- Então que se passa?... A Dr.ª Isabel acabara de entrar. Logo o Jerónimo saltou para o colo de Ana, faminto de carinhos.
- Dr.ª - Interpelou-a o Dr. Antunes – Seja bem vinda. Queira sentar-se.
- E então?... – Disse a Dr.ª Isabel sentando-se na poltrona do Dr. Antunes.
- O que se passa Dr.ª… é que desta vez a menina Ana, arranjou um problema dos grandes…
- Como assim? – Inquiriu.
- Estávamos quase a terminar a encomenda da “Nevada”, quando a menina resolveu desenhar arabescos, alterando por completo todo o desenho de corte.
- E não se pode remediar o assunto? – Inquiriu a Dr.ª Isabel.
- Infelizmente… não! Eram as últimas peças daquele tecido. Agora não vamos conseguir terminar dentro do prazo para o desfile. É uma tragédia! É uma tragédia! – Disse levantando as mãos aos céus.
- Calma! Calma… Dr. Antunes, pode fazer-me o favor de me trazer uma das peças cortadas e um molde do desenho da Ana? Obrigado. – Fazendo-lhe sinal com o olhar para as deixar a sós.
Lentamente, levantou-se e aproximou-se de Ana. Colocou uma mão no ombro de Ana, esta levantou o rosto olhando os olhos piedosos da Drª Isabel e ficou estática, sem saber que falar. As palavras enrolavam-se-lhe na garganta, desatando num pranto inconsolável.
- Calma, calma. Então diz-me, Ana… o que se passou?
Ana tentou explicar que durante a sua hora de almoço não saiu, como as colegas, do atelier e resolveu adiantar o serviço, começando por limpar a bancada de corte, mas sem se dar conta, começou a desenhar nas peças dispostas sobre a bancada à espera do corte. Começou a inventar modelos, em jeito de brincadeira, quando foi surpreendida pela encarregada da secção. Para disfarçar ausentou-se, mas com a intenção de voltar e apagar os seus desenhos. Entretanto as colegas regressaram e iniciou-se o turno de trabalho. Não mais se lembrou do que fizera. Nunca pensou que a sua colega iria seguir aqueles simples riscos de giz.
- Estás ciente deste problema, não estás?
- Claro, Dr.ª, mas… esqueci-me completamente dos desenhos, eram tão simples e nunca pensei que enganariam a cortadeira…
- Bem. Vamos ver o que se pode fazer… – Dizia a Dr.ª, quando de repente batem à porta - Cá está o Dr. Antunes com o molde…
- Repare Dr.ª, - Disse o Dr. Antunes mostrando um vestido incompleto ainda – Quando fui avisado, já estava a ser costurado… lamento.
- Mostre-me o molde – Ordenou a Dr.ª Isabel apontando o tampo da secretária – Vamos lá ver a obra prima…
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© Guilherme Faria
17 Comentários:
Soslayo...
Agradecido pela visita e pela observação, é assim que gosto das pessoas, directas e sinceras.
Sê bem vindo a este humilde "cantinho", como lhe chamo.
Abraço
Bufagato, obrigada pela tua visita ao meu campo e quero dizer-te que foi um prazer retribuir-te a visita! Gosto do modo como "bufas" a tua prosa! Vou passar por aqui a largar papoilices... li desde o 1 Abraço
bufagato
Estou a adorar!!!! E estou muito curiosa, és muito mau, só nos dares um pedacinho para ler...
é que amanhã não sei se venho para aqui.
Parabéns!
beijocas
Fui obrigado a ler as 6 decisões, para tentar enquadrar as partes.Histórias do quotidiano que acontecem quase todos os dias.É de encantar esta tua história e deixa quem as lê em suspense.Na última, desta decisão, parece-me haver duas histórias sobre a mesma pessoa. A da Ana já desesperada e encontra a D.Isabel com seu Jerónimo e dona de uma empresa e da Ana que fez aqueles desenhos e vai ser despedida, isto segundo o Sr Antunes. Ou a sequência é diferente. Bom fim de semana. Um abraço
Estou com pena da Ana, sabes? Mas a vida dá muita volta e ela é uma lutadora e tem dois caracteristicas muito boas: humildade e perserverança. Só falta "apanhar" alguma da sorte da vida. Olha, onde é que foste arranjar tantos conhecimentos de "corte e costura" para estares tão à vontade a falar dos moldes das moçoilas??? PIU! Bom fim de semana.
E uma leve brisa sopra por estas bandas...desejando um excelente fim de semana e deixando um beijinho de amizade :)
Esta decisão ainda nos vai matar de espectativa :) continuo por cá. Beijinhos.
Ando a ler dois a dois, os episódios. E estou morta de curiosidade! Meu que tu és... :))
Beijos
Sona...
Sona, só posso dar o que tenho...
Não sou mau... tem de ser assim porque está a ser escrito na hora, quase em cima do joelho, como se costuma dizer... e de vez em quando o Guilherme tem brancas e não adiantar muito mais a história, apesar de apertar com ele... Hehehe
Bom fim de semana.
Bjinho
Maria Papoila...
Bem vinda a este humilde cantinho.
Agradecido por gostares.
Estás à vontade para largar aqui as tuas papoilices... lol
Abraço
Arte por um canudo2...
Olá caro amigo,
Tem razão na observação, são duas histórias que se complementam.
Agradecido pela visita.
Bom fim de semana
Luís Miguel...
Ainda bem que a tua Decisão foi tomada.
Estou contente por ti, caro amigo.
Obrigado pela visita e leitura.
Bom fim de semana
Fane...
Sejas bem regressada ao nosso mundo virtual.
Foi sentida a vossa falta...
Obrigada por gostares.
Bjinho
Bom fim de semana
Mocho...
Mochinha mailinda,
Estás com pena da Ana, mas tenho esperança que ela dará a volta por cima, vamos ver o que o Guilherme lhe destina.
Bom fim de semana
Bjinhos
Angelis...
Viva querida amiga, sentes a brisa?
Tens razão, novos ventos sopram por aqui...
Já sentia saudades dos teus comentários.
Bom fim de semana
Bjinhos
Maria do Céu Costa...
Hahaha...
Não, ninguém morrerá de expectativa.
Obrigado pela paciência.
Bom fim de semana
Bjinhos
Agua_quente...
Hahahaha...
Não dá para morrer de curiosidade.
Obrigado.
Também achas que sou mau?
O Guilherme é que é mau... Hehehe
Bom fim de semana
Bjinhos
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