A Decisão... (3)
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Ana pensou na sua curta vida a dois.
Como se dera gratuitamente àquela relação e como se anulára tantas vezes para esta continuar a dar certo. Os sapos engolidos. Tantas frustrações, tantas mágoas, os ciúmes contidos. As esperanças perdidas uma atrás da outra.
Nem o sexo, antes louco, desenfreado, ultimamente apenas consentido, os salvou.
Até só restar o respeito mútuo num conviver de irmãos. Mesmo esse tipo de relação perdeu-se na noite passada.
Recordou a discussão violenta.
Viu o belo rosto de Paulo transfigurado numa máscara hedionda, desconhecida para si, onde predominavam a cólera e a raiva. A bofetada soou-lhe a um tiro de canhão, que lhe deixou os ouvidos a estralejar e um zumbido constante durante alguns minutos.
A imediata luta corpo a corpo que se seguiu. Os móveis a quebrar num ruído ensurdecedor, enquanto se agarravam e empurravam, entrecortado pelos palavrões desprezíveis que a alcunhavam de mulher da rua e nunca pensou ouvir dos lábios que beijou.
O seu ego sorriu-se, ao recordar como lhe acertou com a sua adorada jarra, mesmo em cheio na testa, estatelando-o no chão, inanimado. Vendo-o prostrado, temeu pela sua vida. Cumulou-o de beijos e chamando o seu nome aflita, este por fim, acordou do desfalecimento.
Ficaram ali sentados no chão, alguns minutos que lhe pareceram uma eternidade. Lado a lado, calados, sem saber que dizer.
Paulo levantou-se lentamente ainda zonzo, a esfregar a testa já arroxeada.
Olhou-a ainda sentada no chão da sala e autoritáriamente sentenciou:
- Para mim... chega! Esta relação não é saudável para nenhum de nós. Podes ficar “aqui” – dando ênfase à palavra - enquanto não arranjares onde ficar. Entretanto volto para casa de meus pais. Avisa-me quando puderes sair.
Abandonou de imediato a habitação que fora o seu lar nos ultimos dois, quase três anos. Ana ficou sentada a soluçar baixinho, até que se levantou e dirigiu-se ao quarto onde se prostrou na bela cama de dossel.
Não conseguiu adormecer, os soluços secos na garganta dorida, como se uma bola pequena ali estivesse atravessada, impediram-na.
Quase de manhã, tomou a decisão de dar outro rumo à sua vida.
Paulo tinha razão. Não podia continuar nesta situação. Dependente de Paulo, da sua fama e lucro nas passereles.
Morria de ciúmes em cada revista folheada, onde Paulo posava com belas manequins seminu.
É verdade que quase nada lhe faltava na vida. Qualquer desejo seu, logo Paulo a satisfazia, apenas o seu amor regressava a casa cada vez mais tarde, quando não telefonava a dar-lhe conhecimento de que teria de dormir fora, porque a sessão acabou muito tarde e não dava para regressar nessa noite. Também ela não dormia nessas noites, magicando o que se estaria a passar. Que estaria ele a fazer, a dormir? Sozinho? Ser-lhe-ia fiel no meio de tanta tentação?
A tudo assistiu calada, admirava-se como o conseguia. Mas o temor de o perder, melindrando-o, era maior. Ultimamente andava irritadiço, desconhecia a razão. Com o tempo tornou-se um amor doentio, possessivo. Desconfiado. E o pior de tudo, achava que era unilateral.
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Guilherme Faria
13 Comentários:
Passei para te desejar um bom fim de semana. Tenho acompanhado o que tens escrito mas, por enquanto, não faço comentários...Um beijo e tudo de bom
bufagato
És o Guilherme Faria?
estou a gostar de o ler, agora não te safas de nos mostrar o fim da história, o interessante é que a história é vista do ponto feminino... very good!
beijoca e bom fim-de-semana.
Cá continuo acompanhar. Bom fim de semana. Beijinhos.
No banquete do amor, o ciúme é o saleiro, que ao querer verdadeiro, empresta vivo sabor. Advirta-se, porém, ser erro temperar em demasia. O ciúme, por ser só sal, se posto demais no prato, não tempera, antes, maltrata. Bom fim de semana.
Desculpa a minha ausencia por estas bandas...mas estou a passar um momento menos bom e nem visitar os blogs q gosto me tem apetecido :(
Adoro "ler-te"...
Beijinho e OBRG pelo teu carinho :)
Olá Bufagato. Isto está difícil... muuito difícil conseguir comentar... há dias em que a caixa não abre. Inda por cima as letras estão pequeeeeeeninas... tou frita! Boa semana para ti afilhado!
Lazuli...
Agradeço a visita
bjinho
Delta...
Obrigado
tudo de bom
Bjinhos
Sona...
Estás a gostar...
ainda bem...
Já tinha saudades tuas.
Bjinhos
Maria do Céu Costa
Agradecido
Bjinhos
Emptysoul...
Obrigado pelo tempero
Fica bem
Nina...
Vai passar...
Tudo passa, vais ver.
Obrigado
Bjinhos
Animaleja...
Obrigado
Madrinha
Tudo de bom
Bjinhos
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