14 dezembro 2005

Luís Monteiro da Cunha

A Decisão... (16)

.../...


- Está tudo muito bem Isabel… mas que vai ser da minha vida agora? Afinal, sou despedida… não sou. Que vou fazer da minha vida?
- Minha filha… - Disse sorrindo-se a Isabel. – Claro que não. Deixas apenas de trabalhar a tempo inteiro na firma. Na minha modesta opinião deves cultivar essa tua aptidão e tentar melhorá-la. Para isso tens de estudar. Tirar vários cursos desde, design têxtil; moda e estilismo; design gráfico; ciências humanas e artes e o que mais aches necessário, para que possas ser uma estilista, ou o que mais desejares ser.
- Mas como poderei fazer isso tudo… se…
- Calma. Nesse aspecto, sou eu que te ofereço os cursos todos que precises de tirar. Claro que terás de trabalhar. Nem eu nem tu, de certeza, queremos que deixes de trabalhar. Trabalhas aqui na empresa. Vais aprendendo na prática com os meus excelentes profissionais e complementas assim os estudos e ao mesmo tempo vais criando e aprendendo. Juntas o útil ao agradável. Achas bem?
- Claro que acho… mas parece-me tudo tão… sei lá. Parece-me uma fantasia!
- Compreendo-te. Hoje já tiveste emoções de sobra. Tantas decisões que deves estar cansada. Vai embora… vai ter com o Jorge que deve já estar à tua espera no parque de estacionamento, para te levar à pensão. Depois, durante o jantar na nossa casa, se quiseres podemos falar melhor, ou então amanhã falamos já que é sábado e temos o dia por nossa conta. Está bem? Vá… Vai lá buscar as tuas coisas. Já é tarde e também já me vou embora.
Deram um abraço apertado e Ana saiu do gabinete como se estivesse a viver um sonho realista demais. Saiu do edifício directamente para o parque de estacionamento. Viu Jorge no interior do seu carro.



- Dr., quero agradecer-lhe por esta boleia. Não acredito ainda… este dia está a ser fantástico… até demais. Ainda não acredito. Parece um sonho, daqueles que só se vêem na televisão e nunca acontecem na vida real. Não sei explicar o que me aconteceu nesta últimas horas…
Jorge escutava-a, mas manteve-se calado, sem saber que dizer.
- Sabe… a Isabel pediu-me para morar com ela, veja lá. Nunca pensei que ela fosse capaz de atitudes assim tão… bonitas. Pediu-me para ser como sua filha. Isto está a ser bom demais. Tenho medo que seja apenas um sonho…
- Não esqueças que a Dr.ª Isabel é uma santa mulher. Porque achas que todos a estimam?... Porque ela é capaz de tudo pelos seus empregados. Nos negócios, agora é implacável… tem de o ser... mas quando lhe falam ao coração… Por exemplo, como reparaste de certeza, cumprimenta toda a gente na firma sem excepção. Não repara no estatuto que cada um usufrui na empresa. Se algém adoece, ou um dos familiares, disponibiliza imediatamente o seu médico particular e quando a doença é grave e dispendiosa, assume as despesas com os fármacos. Mas daí até pedir a alguém para morar consigo… nunca o tinha feito. Ela é uma caixinha de surpresas.
- Eu fiquei deveras surpreendida… com tudo o que me aconteceu hoje. Pensei estar despedida. Depois, o meu desmaio. O nosso beijo. O convite da Isabel. Não compreendo.
Jorge ao ouvir a referência ao beijo, ficou acabrunhado, sem saber que fazer.
- Quanto ao beijo… devo pedir desculpas…
- Não! Por favor! Fui eu que quis. Precisava mesmo de um pouco de ternura e como estava ali… assim tão perto… beijei-o. Não se desculpe, porque eu… é que quis assim. – Disse Ana sorridente.
- Mas… pensava que tinha sido eu a… beijar-te. E contigo desfalecida e tudo, foi uma covardia da minha parte.
- Não foi nada assim! Já disse que quem desejou esse beijo, fui eu. E fez-me muitíssimo bem… A sério… - disse, tentando sorrir-se.
- Mas… mas…
Ana olhou-o muito séria. Viu o seu rosto crispado. Mesmo assim achou-o atraente, apesar de melancólico.

.../...

© Guilherme Faria

Posted by: lmc

7 Comentários:

Às 14/12/05 18:02 , Blogger lena disse...

caixinhas de surpresas "A Decisão..." e ainda bem que assim é, gosto de ser surpreendida "às vezes"
“lá vou eu no banco traseiro do carro do Dr. Jorge para ficar atenta, não se vá passar algo entre ele e a Ana, não vá haver beijo de novo e depois não sei quem beijou quem”

não ligues muito ao que digo, gosto de brincar, o importante é que estou a adorar a história

beijinhos meus

lena

 
Às 14/12/05 18:29 , Blogger Unknown disse...

Estava a ver que te estavas a esquecer da "Decisão", já vi que não.

O Jorge anda um bocado perdido com isto tudo. Agora ela diz-lhe que o beijo partiu dela, ele que pensava ter sido ele a beijá-la.

Cá fico atenta!
bejinho

 
Às 14/12/05 20:02 , Anonymous Anónimo disse...

Se a Ana estivesse caladinha... Bastava dizer que tinha gostado e pronto! Agora lá vai o Jorge perder-se de novo em ruminações... Pensei que te tinhas esquecido que estamos à espera do resto da história Bufagato! Há assim santinhas com empresas como a DrªIsabel? Apresenta-me uma, Bufagato! Beijo

 
Às 15/12/05 11:51 , Blogger Luís Monteiro da Cunha disse...

Lena...

Principalmente quando pensas que está dificil de dar a volta à situação... não? lol
Não sabia que eras passageira anónima... lol

Obrigada, querida amiga... divertes-me

Bjinhos

 
Às 15/12/05 11:53 , Blogger Luís Monteiro da Cunha disse...

Sona...

Como poderia...
Continuo a dizer... como me desconheces...

Tudo se resolverá em breve... tem de ser!!

obrigada.

Bjinho

 
Às 15/12/05 11:59 , Blogger Luís Monteiro da Cunha disse...

Maria Papoila...

Hahaha...

Posso apresentar-ta, vens à Maia?

Mas olha que felizmente ainda há.
São empresas com cunho ainda familiar. Geridas por pessoas que ainda tratam os empregados como se fossem familia e que lhes exigem devoção e empenho total.

Bjinho

 
Às 16/12/05 22:24 , Anonymous Anónimo disse...

Bufagato, antecipando um pouco o fim desta história, eu tenho para mim que a tua inclinação é para juntar estes dois. Será que estou errado? Eu não espero outra coisa. Já estou a ser parcial. Mas, tenho que dizer algo daquilo que me apercebo.

 

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