13 dezembro 2005

Luís Monteiro da Cunha

Poesia em tempos de indulgência


Dizia ontem, Manuel Pina, na sua coluna de opinião “Por outras palavras”, no JN, referindo-se à festa da poesia para assinalar a data do nascimento e morte de Florbela Espanca, organizada pela Biblioteca Municipal de Matosinhos:

«Cerca de mil e quinhentas pessoas, participaram nos dois dias da festa da poesia.
Muitos tiveram de ficar de pé, para ouvir ler poesia.
Que procuram hoje as pessoas na poesia?
Que fez com que tanta gente tivesse saído de casa numa noite fria de Dezembro, para ouvir poesia?
Porque continuam os homens a escrever poesia? E porque continuam outros homens, desrazoavelmente, a escutá-la?
A poesia não tem respostas… não oferece consolo, não promete coisa nenhuma.
É apenas um fio de voz, desprovido e solitário…/
Que haja quem continue à escuta dessa longínqua voz, pode significar que talvez haja esperança e que talvez, afinal, não sejamos inteiramente miseráveis…»

In: JN – Edição de 12/12/05 - Ultima página – Coluna de opinião: Por outras palavras Por António Manuel Pina, jornalista, escritor e poeta.


Faço minhas, as tuas questões, caro Manuel, por pertinentes que são.
Que procuramos na poesia, que não exista já.
Que não tenha já sido dito?
Procuraremos alimento?
Será que depois de uma vida de decepções e alegrias, buscamos na palavra sentida e com sentido, consentânea com o nosso viver abjecto e desregulado, uma esperança? Uma voz, que nos faça tilintar a campainha que assinala o início do recreio, uma porta para ultrapassar, uma busca do desconhecido. Para depois podermos em simples reflexão, matutar e questionar o porquê de todas as coisas?
Não caro Manuel, penso que não é apenas voragem, de ideias ou de conteúdos.
É uma busca de momentos sublimes, apesar de fugazes, que nos aquece em plena noite escura e fria de Dezembro, mesmo de pé, com o frio cortante que não se sente…
Toda esta imagem, caro Manuel, como sabes melhor do que eu… é em si só, um acto de poesia…


Digam de vossa justiça… Que procuramos nas palavras de outros… que não tenhamos já, encerrado, dentro de nós?

Continuação de uma boa semana, caros amigos e amigas…



Posted by: lmc 2005

15 Comentários:

Às 13/12/05 12:18 , Blogger Crepúsculo Maria da Graça Oliveira Gomes disse...

Olá amigo o teu post dá impressãio que é um recado a alguém a quem quer que seja que o venha ler pois tem uma descrisão de uma situação bastante esplicita. Beijinhos amigo

 
Às 13/12/05 12:53 , Blogger Que Bem Cheira A Maresia disse...

Também a correr muito (ainda estou ofegante, lol), passei para te visitar e te deixar um beijo:)

Boa pergunta!

Lina/Mar Revolto

 
Às 13/12/05 13:41 , Anonymous Anónimo disse...

Bufagato é na procura do sublime que nos sublimamos e reflectimos em como a vida mesmo na realidade quotidiana é sublime! Beijo

 
Às 13/12/05 14:56 , Blogger Pink disse...

Com que então Bufagato e, pelo que me é dado ver, beranco e de pelo farto e macio :-))

Obrigada pela tua visita e pelos elogios tecidos lá no meu cantinho.

E agora quanto è questão em epógrafe ... procuramos sim os tais momentos sublimes, procuramos por vezes o sonho e uma fuga à realidade, momentos de felicidade ainda que breves ...

Um beijo da Pink

 
Às 13/12/05 14:57 , Blogger Pink disse...

claro que onde se lê "epógrafe" deve ler-se "epígrafe". Eheheh, prof em final de período é assim mesmo!

 
Às 14/12/05 12:21 , Anonymous Anónimo disse...

Bufagato, a poesia não se explica sente-se! E como nós somos um povo de sentimentos aplica-mo-lo à poesia. 1.500 pessoas não são tão poucos quanto isso! E daí tirar ilações desse aglomerado de pessoas para ouvir poesia... O homem com as novas tecnologias, encontram-se pouco e, falam-se menos ainda e, daí o sentir a necessidade de reunir. Penso eu!? Não sei!? Um abraço

 
Às 14/12/05 12:45 , Blogger gato_escaldado disse...

"pela poesia vamos. ou não iremos..."

olha. não me lembro quem escreveu. abraços

 
Às 14/12/05 17:01 , Blogger Luís Monteiro da Cunha disse...

Adryka...

Não é nada disso querida amiga.
È apenas uma constatação do facto e questiono como o autor o mesmo, tentando também dar-lhe possíveis respostas.

Bjinhos

 
Às 14/12/05 17:02 , Blogger Luís Monteiro da Cunha disse...

Aromas do mar...

Obrigada... recebeste o meu mail?

Bjinhos

 
Às 14/12/05 17:04 , Blogger Luís Monteiro da Cunha disse...

Maria Papoila...

A nossa ânsea do sublime é tanta, que por vezes esquecemos que a sublimidade está mesmo à nossa frente... apenas temos de reparar nela e extasiarmo-nos.

Bjinhos

 
Às 14/12/05 17:06 , Blogger Luís Monteiro da Cunha disse...

Pink...

Reparas como o "epógrafe" pode ser sublime?
Tem o seu carisma.
Um simples erro ortográfico, pode sublimar uma afirmação, ou uma ideia, mais até do que a pontuação.lol

Bjinhos

 
Às 14/12/05 17:09 , Blogger Luís Monteiro da Cunha disse...

Alex...

Certezas... precisam-se!

Gosto de pintar assim... nas nuvens e no vento. Colhem-se frutos inimagináveis, como a andorinha que volteia razante o seu ninho e só se aproxima quando está segura de que não provém ventos instáveis que a façam voltear novamente.

Bjinhos

 
Às 14/12/05 17:11 , Blogger Luís Monteiro da Cunha disse...

Soslayo...

Como tens razão caro amigo.
Mas não se resume apenas à solidão.
O sentir, a busca de emoções alheias que possam corresponder ao nosso quebranto, aos momentos diários de quem deseja dar a conhecer um pouco de vida escondida no fundo da alma.
Semelhanças... talvez!

Abraço.

 
Às 14/12/05 17:12 , Blogger Luís Monteiro da Cunha disse...

Gato_Escaldado...

E se formos todos... lol
A união faz a força. lol

Abraço

 
Às 16/12/05 16:51 , Anonymous Anónimo disse...

"Que procuramos nas palavras de outros… que não tenhamos já, encerrado, dentro de nós?"
Porque se fala em voar se não voamos, porque se fala nas estrelas se não podemos alcançá-las? E ao alcançarmos as estrelas que obteríamos delas? O sonho é um escape, as frases sentidas às vezes não parecem ter nexo nenhum para os outros mas são sentimentos nossos às vezes camuflados num jogo de palavras cruzadas, e nesse jogo de palavras cruzadas em qualquer quadrícula podes te identificar com a letra que lá está, pode ser um b de bufagato que já sentiu algo que tu ja sentiste, quem sabe um g de gaivotadaria (que parecerá ridicula porque não existem gaivotas falantes... hehehe) bj

 

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