A mãe indigente
- Mãe, quero castanhas!
A mãe olha-o triste, nos olhos.
- Filho… porque não as apanhas!? – Disse, tentando sorrir-se, num tom de voz brejeiro e calmo.
O filho prazenteiro, simulou apanhá-las do chão, aos molhos… em gestos largos e teatrais, depositando-as imaginariamente no colo de sua mãe, enquanto esta lhe passava a mão no cocuruto, e sempre sorrindo, alisava um cabelo rebelde.
Sentou-se o menino no chão.
Erro.
Na sua cadeira de tafetá… e continuando os gestos teatrais, repartiu pelos demais comensais, tão nobre repasto. Transportara-se para um enorme salão, onde existia uma enorme mesa, ricamente decorada com uma também enorme toalha do mais fino linho de uma alvura nunca vista. Esta, estava pejada de todo o tipo de iguarias que a imaginação pode alcançar… ao redor desta, estavam todas as crianças do mundo. Alegres e felizes desdobravam-se em sorrisos contagiantes, enquanto se deliciavam com os mais finos bolos e frutas, olhando prazenteiramente o alegre conviva… os olhos da criança, brilhavam como brasas de lareira acesa em pleno natal, que nunca conhecera…
Choram os olhos de sua mãe… uma gota salgada escorre teimosamente pela face… não vê esta, o sonho do que não tem…
Teme pelo filho, seu único orgulho e riqueza. Abraça-o, cumulando-o de beijos.
Tão vivo e tão puro na sua imaginação… nem reclama do que não tem… criança mais bela, não existirá… nunca!
Ternamente, de olhos já cansados, este anicha-se no seu regaço, antes mesa de banquete, e aí se deixa embalar, esquecido já da indigência, companheira fiel de sua curta vida.
Adormece o andarilho, na calma dos seios maternos, levando consigo o terno sonho, apenas denunciado pelo sorriso do adormecido.
Pelas tábuas entrecruzadas do lar escuro, sibila o vento do Norte… sem cuidado, abraça-os e envolve-os, revoltando as vestes andrajosas…
E o ruído cortante… não pára! Não a deixa sossegar.
Sussurra palavras do epitáfio, na manhã que advirá…
© lmc
6 Comentários:
Que texto tão "incómodamente" triste, real e chocante, principalmente porque está tão bem escrito que nos transporta para uma realidade tão perto de nós. Na verdade, o que vai aconchegando e acalmando o coração de muitos pais são os olhos inocentes e mágicos das crianças...
Bonito, apesar da dura realidade.
Muito bem escrito este teu conto, não de fadas mas de tristes fados.
Um abraço
Este não é conto de fadas...é um conto bem real. Cada vez há mais pobres neste país de desempregados; cada vez há menos esperança, mais duvidas...
Muitos meninos sem pais, sem ninguém que os queira adoptar, muitas familias sem abrigo, muitas esperanças a tombarem todos os dias. Para quando uma réstea de sol em dia de tempestade?
Para quando castanhas reais em vez de virtuais? que os sonhos fizeram-se para ser de encantar e não para servirem de um alimento que não há...
Bjs e bom fim de semana.
gostei de ler apesar da tristeza/pobreza nele existente
tão real, nada virtual
jocas maradas
triste realidade e chocante, muito bem escrito como já nos habituaste
um olhar de criança que consegue muitas vezes um sorriso forçado, dos seus pais, onde escondem as lágrimas que bailam nos seus olhos
beijinhos para ti Luís
lena
Enviar um comentário
Subscrever Enviar feedback [Atom]
<< Página inicial