28 maio 2006

Luís Monteiro da Cunha

A Raínha do Douro



Poema da minha autoria, publicado na edição de hoje, 2006-05-28,
no Jornal de Notícias, na secção do Leitor, P. 29, com foto da ponte e do metropolitano.



(A Rainha do Douro)
D. Luís a Ponte

De ti morreram-me saudades
Estás bela, remoçada na maquilhagem
Novo curso, te destinaram
Deixas de ser ponto de passagem
Dos veículos que te cruzaram

Apenas peões e metro ligam as margens
Tens rosto prazenteiro leve na aragem
Do batom soalheiro a cobrir a ramagem
És o Porto inteiro na hora das coragens

Velhos como os séculos, são os trapos
Porque remoçada, és mesmo linda
Pois percorrem-te a pé ainda
Na motivação citadina dos factos

E com desvelo te veneram
Acariciam o ferro de teu arco
Debruçados, o Douro avistam
Na travessia de cada barco

És do Douro a rainha
Ponte sublime e cuidada
Os tripeiros chamam-te sua
Quando há festa na rua
Nos festejos és folgada
Nessa festa também minha


© Luís Monteiro da Cunha


25 maio 2006

Luís Monteiro da Cunha

De metro - V, FIM




De metro – V

Tão coitadinhos…
Sempre pobrezinhos
De semblante carregado
Nem sabem, o valor
Da riqueza que transportam
Guardada no coração
Que mantém acorrentado

Definham
Sonhando com o amor
Que em si existe…
Irreconhecível.
Perdem-se na razão!

© Luís Monteiro da Cunha
2006-05-13


e assim termina este verso,
referente ao movimento de
entrada e saida de passageiros
deste meio de transporte.
Bufagato

22 maio 2006

Luís Monteiro da Cunha

De metro – IV



De metro – IV


Mas o sol caloroso, sempre os reclama
Dos cálidos raios, uma atenção
Destes frenéticos que esquecem
Da humana nobre condição
De guardiães dos desvalidos
Na natureza ultrajada

De onde vieram?
Para onde caminham?
Mas no entanto,
Porque olvidam
Algures na pressa,
O próprio coração?

Como baratas adivinham
O que desejam… por onde vão...
Sem repararem que pelo caminho
Existe uma eterna sinalização
Nos elementos, que prenunciam

A desgraça percorrida
Levará à própria extinção

© Luís Monteiro da Cunha

19 maio 2006

Luís Monteiro da Cunha

De metro – III



De metro – III

Ousam expulsar dos corações
A alegria dos rostos,
Herméticos, mecanizados.
Prenunciam
A batalha que reiniciam
Eterna corrida solitária
Neste desfile infernal
Para o destino amargo,
Desprovido de desejo
De cada dia
mais longo e abismal
Sem abraços,
um simples beijo
Ou
recordação da ternura
Do enlevo no olhar
Na candura maternal

© Luís Monteiro da Cunha

17 maio 2006

Luís Monteiro da Cunha

De metro – II

foto: Bufagato

De metro – II

Vomitam-se multidões,
Aluviões indiferentes
Seres em desalinho, invisíveis
Todos iguais e tão diferentes
Tentam desarmar o relógio no pulso
Quando o que os comanda
Autómatos, é só o espelho avulso.


© Luís Monteiro da Cunha
2006-05-13

16 maio 2006

Luís Monteiro da Cunha

De Metro – I


De Metro – I

Eis que chega a composição amarela,
Salamandra nascida da voracidade,
Vertigem de sonho e vício, varela
Do citadino que acredita, tudo sabe.

Tudo
Afinal, não passa de desperdício
Físico na raridade mental
Resta apenas o estropício
Congénita deficiência universal.
Cego, surdo e mudo.


© Luís Monteiro da Cunha

== # ==

Boa semana para vós...
logo que possível,
tentarei visitar-vos
e retribuir o vosso carinho.
Agradeço a vossa amizade
que sempre cala fundo no meu coração
Beijos e abraços
Luís

10 maio 2006

Luís Monteiro da Cunha

Como_vida



A areia molhada
dos meus pés embebida
enlevada a alma na serena
onda perdida deste oceano
liquido de cristais
que não escuto

Sinto-o
apenas na minha pele
essa força que resiste
vagamente após vaga
corajosamente persiste
só porque existe

divago
embalado
neste
sonho de mundo
acordado

solitária ilha
cercada
de ser

aos meus pés molhados
cola-se-me a areia
como_vida a afagar

os meus pés
cansados
cristalizados

não reparo


© Luís Monteiro da Cunha

07 maio 2006

Luís Monteiro da Cunha




Mãe

Pequena definição
de quem em si encerra:
O poder da afeição…
e da paz, na guerra

A luz da harmonia,
que ilumina e inebria

A força e a calma,
de aguentar a sua dor na alma

Manter-se num sorriso afável,
do seu coração inesgotável

Mesmo quando chora,
faz-se contente, na mesma hora

E avança…
para o eleito,
alegre como criança
Estreita-o no peito,

com carinho tanto,
que tem para dar
Se recebe uma flor…
e um sorriso,
abre-se para o amor
Como se fora ela,
uma janela,
de terna lufada de ar

Contagia até a natureza
e é na minha convicta certeza
O ser mais enigmático
que a essência contém

O segredo pragmático
do seu universo
Não se extrai
simplesmente neste verso

Só se apreende do peito de uma mãe.

© Luís Monteiro da Cunha


Dedico este verso, a todos... homens e mulheres...

Às mulheres, porque é óbvio, são as mães geradoras de vidas, e se não são ainda mães, têm o desejo natural de conceber... e também têm ou tiveram a sua mãe.

Aos homens... porque apesar de não serem mães, são no entanto os seus maiores amantes, idolatrando-as até, em muitos casos conhecidos.

E afinal... todos nós, homens e mulheres, nascemos da nossa Mãe, não é verdade?

05 maio 2006

Luís Monteiro da Cunha

A lua e os cornos, da bola...


– Papá, papá! Porque é que a lua tem corninhos?
– A lua, não tem corninhos filho, é um planeta, sabes o que é um planeta?
– É uma bola!… - nisto, calou-se e ficou pensativo.
Pensei que ele estava à procura da resposta certa para me dar. De repente…
– Mas não posso jogar com ela, pois não!? Quem a pôs, ali tão alto?! Assim ninguém lhe chegaaaa… – disse tristonho e alheando-se do assunto.

Pois! Deve ser isso…
Não lhe interessa a definição da lua, apenas interessa que pode ser uma bola, e que não consegue brincar com ela.
Mais tarde explicarei, quando for maior…
Agora está na hora dele brincar… à bola, claro!

Goooolo!!

Bom fim-de-semana,

E brinquem muito, é salutar e contagiante, experimentem!

© Luís Monteiro da Cunha

03 maio 2006

Luís Monteiro da Cunha

Sim, eu sei(s)


No gozo pleno e merecido destas férias, muito tenho divagado...
Temas não faltam por esse mundo fora, basta olhar com atenção e aguardar a inspiração.

Estes dias tenho andado particularmente contente, não só por não fazer nada (excepto as minhas idiossincrasias), mas porque (felizmente) ainda há quem acredite nas minhas loucuras e devaneios e as publique... bem hajam e um abraço para esses editores e livreiros arrojados!

Fico feliz por encontrar amiúde trabalhos meus nas publicações da nossa praça... hoje, na mesma edição jornalistica publicaram dois dos meus trabalhos, um dos quais já conhecem alusivo à Páscoa.

São todos vocês e estas alegrias, que me incentivam a tentar criar algo de novo do que criado está! A diferir do quotidiano, tentando encontrar aquela luz difusa que não se alcança no primeiro olhar... por vezes consigo, outras nem por isso... Obrigado!

Tenho ou não motivos para sorrir?



Sim eu sei, deste seis cardinal
Não escolhido, antes aparecido
Na margem da imagem decorrido
Não pode ser apenas nominal

Pois existe na sua essência
A contractura de uma vida
Que regressa a si sofrida
Na exacta dissolvência

Curvilíneo no abstracto
Meia dúzia é também
Fica o número exacto

Diz o povo e quem
Na constatação do facto
Conta tudo o que tem


© Luís Monteiro da Cunha