16 novembro 2005

A Decisão... (5)


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Era com sofreguidão que absorvia cada paisagem que passava veloz pela vidraça do Alfa. Estava a chegar ao Porto, segundo foi anunciado pelo intercomunicador da composição. Preparou-se para sair, apertando a pequena mala ao peito. Sentiu o freio da locomotiva que atravessara languidamente o túnel escuro, desembocando na estação de S. Bento. Caminhou no cais seguindo os companheiros de viagem, olhando furtivamente o tecto de vidraças que pareciam já seculares. No átrio da estação, parou deslumbrada a observar os motivos existentes nos painéis de azulejos que ornamentam o átrio da estação, de cores azuis esbatidos, mas cheios de significado. Viu ali o labor portuense representado com minúcia. Sentiu-se criança de novo. Abismada, nem reparava nas pessoas que passavam a correr alheias ao seu deslumbramento. Chegou a uma das portas existentes e hesitou. Qual o rumo a seguir? Esquerda ou direita? Pela primeira vez olhou os prédios da cidade. Pareceu-lhe uma cidade velha, bafienta, quase sem cor. No entanto, esta era viva, via-se pelo trânsito caótico e pelo mar de gente que calcorreava os seus passeios numa azáfama indescritível. Após um suspiro, ganhou coragem e enfrentou a cidade.


- Menina Anaaa!
A visada ficou como que petrificada. O sangue gelou nas veias. Ficava sempre assim, quando aquela voz gutural do Dr. Antunes se dirigia à sua pessoa.
- És surda… ou quê? Vem imediatamente ao meu gabinete! – Ordenou do alto do seu aposento.
Ao primeiro grito, todo o atelier parou o que estava a fazer para olharem a “ nova” como lhe chamavam. Naquele momento desejou ser um mosquito para poder sair dali sem ninguém a ver.
Lentamente, entre sorrisos de troça e outros de solidariedade, encorajando-a, subiu os quatro degraus em direcção do gabinete envidraçado, de onde o Dr. Antunes controlava cada movimento das operárias no piso inferior.
- Que se passa contigo? – Gritou – É estúpida ou quê? Deves ter algum parafuso a menos. Sabes o que fizeste?
As lágrimas começaram a correr pelas faces de Ana.
- Não vale a pena chorar. Não me comovo com choros. Foste longe demais! – Ana nem balbuciou – Desta vez foram cento e cinquenta peças para o lixo.
- Desculpe Dr.
- Desta vez não tens desculpa. Nem a tua madrinha te salva. Vou comunicar à Dr.ª Isabel e de certeza que desta vez vais para o olho da rua. Já te tinha avisado.
A simples menção do nome da Dr.ª Isabel, fez com que Ana se prostrasse no chão em choro convulsivo enquanto pedia perdão.
- Lamento Ana. – Disse já mais calmo – Já mandei chamar a Dr.ª para resolver este problema contigo. Vá levanta-te. – Enquanto lhe oferecia uma mão. - Não te quero mal rapariga. Mas és muito aluada. Vá, senta-te aqui e espera pela Drª – Chegando-lhe um cadeirão.
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© Guilherme Faria

21 comentários:

  1. Vim deixar um beijinho...
    Que irá acontecer a Ana?....

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  2. É a primeira vez que cá venho e gostei do que por cá encontrei.
    Quanto à história, devo dizer que é bom sonhar, mas nem tanto assim.
    Abraço.

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  3. Seguindo a leitura e á espera da decisão. Beijinhos.

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  4. Tenho de continuar, pois noto que isto vai dar novela, estou a gostar, voltarei. Beijinhos para ti

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  5. olá,
    vim aqui agora de passagem, estou de saída para o serviço, mas volto, pois vejo que já tens alguns episódios para eu ler
    :)
    até mais logo
    beijinhu

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  6. Carlota...

    Ainda bem, que te revês... é sempre bom recordar e como dizes aprender com a vida...

    Quem agradece sou eu...

    Bjinho

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  7. Margusta...

    Só o futuro o dirá...
    Nem eu que transcrevo, o sei...

    Fica bem,

    Bjinho

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  8. Art_of_love...

    Seja bem vindo a este humilde cantinho, se gostou, espero que volte...
    A história... a ver vamos, se é sonho ou realidade.

    Abraço

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  9. Lazuli...

    Obrigado, laz...

    Até logo então.

    Bjinho

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  10. Maria do Céu Costa...

    Obrigada
    pelo interesse...
    Tudo de bom.
    Bjinho

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  11. Adryka...

    Olá amiga,
    gostei de ler sobre o teu 1º pretendente, lol

    Obrigada

    Bjinho

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  12. Nita4ever...

    Bom trabalho.
    Até mais logo então

    Bjinho

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  13. Passo por aqui e deixo-te um beijinho e o incentivo para te deixar a escrever mais um episódio da "A Decisão". Não faças a Ana chorar demais. E põe o patrão dela a escorregar e cair para ser alvo de chacota, eu gostava.
    beijoca

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  14. Também adoro o nome ANA, bem escolhido.
    outro beijo
    nota: sabes da alex?

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  15. A curiosidade trouxe-me até aqui, sentei-me num cantinho e li “A Decisão...” confesso que gostei e fiquei presa ao desenrolar dos acontecimentos.agora que irá acontecer à Ana? vou voltar para ler, até lá fico ansiosa

    beijinhos

    lena

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  16. Tentei conter os comentários e a leitura, para ter o prazer de ler a história do princípio ao fim.
    Não consegui... A curiosidade ia-me matando!
    Estou agora a ter o fantástico prazer de aguardar pelo capítulo seguinte.

    Obrigada Luis, pelo excelente texto, excelente história, fantástica narrativa.

    Bjs grandes,
    S

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  17. Escreves muito bem. Parabéns. É uma história bem escrita e que cativa quem lê. As personagens prendem a atenção, e formam elas próprias o cenário, porque são ricas de conteúdo e muito empenhadas emocionalmente; O que pode desejar mais uma pessoa que gosta de escrever? Vou continuar a seguir, de forma muito interessada, a história da Ana e o seu drama. Bicadinhas e fica bem.

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  18. Sona...

    Ainda bem que gostas...
    da história... e do nome da nossa protagonista principal...

    Beijinho

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  19. Palavras que escrevo...

    Obrigado por gostares e acompanhares.

    Adorei a tua cabana...

    Bjinho

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  20. Sofes...

    Bem regressada...

    Obrigado pela visita e por essa curiosidade... lol

    Bjinhos

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  21. Mocho...

    Obrigada por todos os elogios, mas não está perfeita, existem várias gralhas, mas como está a ser escrita e postada quase sem tempo de limpar e corrigir, desde já peço desculpa por esta minha falha.
    Mas não quero falhar a data de postar e deixar-vos na expectativa.


    Bjinho

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